quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A formação teológica e profissional do ministro bivocacionado

Romildo Ricardo Ramlow
12/12/2012

Falar de ministério bivocacionado é conciliar profissão e vocação. Isso implica formação acadêmica que qualifique a pessoa para exercer uma profissão, seja cursando uma graduação ou técnico, na modalidade presencial ou EaD (Educação a Distância). O mesmo vale para a formação teológica, diferenciando um aspecto: a formação teológica não é estritamente própria para quem decide atuar como ministro de tempo integral.
Com os avanços e a democratização da educação nos últimos anos, o acesso e a facilidade de cursar não somente uma, mas duas ou mais graduações e especializações é ilimitado. Mesmo para quem já está trabalhando, administrando o próprio negócio ou mesmo não teve oportunidade em outras épocas de estudar, pode iniciar uma faculdade e concluir uma (ou mais) graduação. Isso inclui formação profissional e vocacional, ou seja, você pode conciliar trabalho e vocação, bastando para isso cursar teologia sem precisar deixar seu atual trabalho e fonte de renda.

Buscando ampliar a visão sobre ministério bivocacionado, sugiro a leitura do livro Ministério: vocação ou profissão – o preparo ministerial ontem, hoje e amanhã. Neste livro, da Editora Hagnos, o autor Justo L. Gonzáles (clique aqui pra ler um trecho) explora e apresenta a preparação ministerial de outros tempos diante da crise e falta de vocações ao ministério e egressos em faculdades teológicas.

Gonzáles destaca que no contexto da igreja católica, o maior problema é a ‘falta de vocações’, mas que “o problema não está na falta de interesse nos estudos teológicos e ministeriais. Nesse caso, a questão é: enquanto o ministério laico e os estudos necessários para a sua preparação despertam entusiasmo, não existe interesse pelo ministério ordenado” (p. 05). Podemos perceber que Gonzáles destaca que o problema não é interesse pela formação teológica, mas pela ordenação, ou seja, exercer o ministério de tempo integral.
O que motiva a crise e o desinteresse pelo ministério de tempo integral? Justo L. Gonzáles (2012, p. 05,06) nos ajuda nessa questão:

Não cabe a mim oferecer soluções que não me foram solicitadas, mas ouso dizer que, se a igreja católica romana não encontrar solução para esse problema, dentro de algumas décadas os sacerdotes ordenados terão tempo apenas para rezar a missa, celebrar casamentos e outras tarefas semelhantes, deixando aos leigos as tarefas de dimensões mais pessoais do ministério pastoral. Esse fato, por sua vez, vai agravar a crise, já que existem claros indícios de que uma das causas da atual escassez de vocações sacerdotais é que as tarefas às quais muitos padres precisam dedicar boa parte de seu tempo estão muito distantes do trabalho pastoral propriamente dito. São tarefas administrativas e sacramentais que não despertam a imaginação nem o entusiasmo dos jovens que procuram uma profissão que lhes ofereça sentido à vida.

Se Gonzáles está destinando sua observação e análise a igreja católica, vale destacar que as igrejas protestantes não fogem muita a regra, pois a crise assola e perpassa denominação, tendo como característica não o interesse pela teologia, mas as condições vividas e tarefas desempenhadas pelo ministro de tempo integral. A crise é antes eclesiológica do que teológica.
           
            Gonzáles destaca que os sinais da crise entre os protestantes são outros. Ele diz que “com a exceção de algumas denominações, a crise não está na falta de quem ouça o chamado para o ministério em tempo integral. O problema se encontra na falta de conexão entre esse chamado e boa parte do que se oferece em termos de preparação para o ministério” (p.06). Ele ainda diz:

“Ouvimos na América Latina aquilo que também se escuta nos Estados Unidos - e muito mais na Europa: a denúncia de que os seminários e as escolas de teologia parecem não preparar adequadamente seus alunos para a prática ministerial, e que, muitas vezes, aqueles que não estudaram em seminários se tornam melhores pastores e pastoras do que os graduados por alguma instituição. Sem dar toda a razão para os que pensam dessa forma, devemos reconhecer que as denominações que mais crescem não são as mesmas que exigem estudos em seminário para o pastorado. Ainda que o crescimento numérico de uma igreja não deva ser a única medida de julgamento quanto à eficácia de seu ministério, o próprio fato de as igrejas que mais estudos exigem de seus pastores serem aparentemente as que menos crescem parece indicar uma lacuna entre o ensinado no seminário e o praticado na igreja. Tal constatação deveria servir de alarme para a educação teológica tradicional” (p.08).

            Seja em questões de atuação e eficiência ministerial, independente da crise de vocações e a péssima qualidade na formação teológica apontada por Gonzáles, é possível entender o seguinte: o ministério eficaz não tem nada a ver com ministros de tempo integral ou parcial. A própria formação teológica na igreja antiga é uma prova de que os líderes não frequentaram faculdades de teologia, mas tinham conhecimento e formação em outras áreas e era assim, pela sua capacidade (filosofia, retórica e oratória), designado ministro.

            Atualmente, com os avanços tecnológicos, novas alternativas para o preparo profissional e teológico estão disponíveis. Mesmo dispondo de mais e melhores recursos didáticos, como do excesso de informações (boas e ruins), a vocação e preparo para o ministério está ao alcance de (quase) todos. Quanto a crise da preparação ministerial, Gonzáles diz que esta “possui uma dimensão tal que não será resolvida com apenas alguns ajustes no currículo, ou novos métodos administrativos, mas será necessário examinar tudo o que fazemos com o objetivo de atingir mudanças bem mais radicais” (p. 10).

            Em resumo, a proposta de Gonzáles neste livro é “lançar um breve olhar no passado da preparação ministerial, para saber se há algo na história que serve de fundamento para nossa resposta aos desafios do presente. E além disso, mostrar que boa parte da realidade, tida por nós hoje como perfeitamente natural e até mesmo necessária à vida da igreja — por exemplo, os próprios seminários — nem sempre foi e que possivelmente existam outras maneiras de fazer tais coisas. Ou seja, o conhecimento do passado — ou melhor, dos passados — nos livra da escravidão do passado imediato, cuja continuação é muitas vezes apresentada como a única alternativa possível” (p. 10).

            Recomendo a leitura de Ministério: vocação ou profissão – o preparo ministerial ontem, hoje e amanhã, na esperança que o preparo e a prática ministerial carecem de alternativas e que existem outras maneiras de se alcançar os mesmos objetivos.

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