quarta-feira, 4 de abril de 2012

Limites e possibilidades para o ministério bivocacionado


MÉTODO E MODELO MINISTERIAL

BICKERS, Dênnis W. Pastor e Profissional: A alegria do ministério bivocacionado. Rio de Janeiro: Textus, 2001.



Existe uma verdade nessa frase: “Se você faz sempre as mesmas coisas, obterá sempre os mesmos resultados”. Também podemos saber que se fazemos sempre as coisas da mesma forma, nunca faremos nada diferente. É possível fazermos a coisa certa de forma diferente, isso por que, o estilo de vida das pessoas hoje é diferente do que a época de nossos avós. A própria tecnologia está mais avançada, sofisticou. Ontem o cavalo era um meio de transporte interessante e indispensável, hoje, ainda pode ser, mas todos irão concordar que o carro é mais prático e eficiente. Ambos são uteis, de acordo com sua finalidade.
            Quando o assunto é ministério eclesiástico, o princípio é o mesmo. Existem muitas formas de desenvolver o ministério. Cada época e cultura exigem formas próprias para sua realização. Cabe a nós buscar compreender a os princípios e contextualizado de acordo com a época. Não é uma questão de inventar algo novo, mas de fazer algo de forma diferente. Vamos destacar algumas possibilidades de ministério eclesiástico para o século XXI.
Primeiramente, antes de estabelecermos os limites e as possibilidades para o ministério bivicacionado, vamos a definição o conceito: “O ministro bivocacionado é aquele que tem um trabalho secular e uma posição de ministro remunerado, ou não, na igreja. É também conhecido por fazedor de tendas, sendo o exemplo bíblico o apóstolo Paulo, que se sustentou financeiramente fabricando tendas” (p. 10).
A primeira possibilidade e relevância do ministro bivocionado para as igrejas está no fato de que muitas denominações (igrejas locais) são restritas quanto a recursos financeiros, não podendo dispor de um pastor de tempo integral. Também junto a isso, o próprio tamanho da igreja, sendo por sua vez, pequeno em número de membresia, muitas destas sofrem com mudanças freqüentes na liderança pastoral, daí, o ministro bivocacionado, além de ajudar na situação financeira de uma pequena igreja, também oferece estabilidade da qual necessita para alcançar seu potencial. Somado a isto, o ministro bivocacionado tem maiores condições do que aquele de tempo integra, pois poderá permanecer mais tempo numa mesma igreja, permitindo desenvolver maior confiança entre os membros e o ministro, o que gera efetividade ministerial.
Frente ao problema do ministério pastoral de curta duração, o ministro bivocacionado pode ficar mais tempo, pois não enfrenta as mesmas pressões financeiras que os ministros de tempo integral, sendo que alguns bivocacionados dão mais a igreja em forma de dízimo e ofertas do que recebem.
Outra grande possibilidade para o ministério bivocacionado está nas frentes de missão transcultural, onde que a força-tarefa missionária precisa de homens e mulheres com um trabalho cristão de dupla vocação (profissional e ministerial) para transpor barreiras de resistência religiosa que se apresenta frente a importante estratégia de evangelização mundial.
 Também frente a grande carência de pastores e missionários em muitas regiões e de algumas denominações, o ministro bivocacionado dispõe de melhor perfil junto a estes contextos. Também o ministério bivocacionado se faz útil junto às muitas iniciativas missionárias, formação de novas comunidades, pois estes por sua vez exigem liderança e cuidado pastoral, mas que não tem recursos suficientes para proporcionar um ministério de tempo integral. Os próprios ministros (pastores e missionários) bivocacionados podem desempenhar um importante papel na implantação de novas comunidades.
Como muitas igrejas necessitam de ajuda para esticar as finanças escassas (novas igrejas ou igrejas rurais e tradicionais), podendo o ministro bivocacionado vir a possibilitar as condições de desenvolvimento ou mesmo ajudar algumas igrejas a se manterem vivas o tempo suficiente para uma transição ou aprender a caminhar por si mesma.
Sabendo que muitos seminaristas, e até mesmo pastores atuantes estão planejando se especializar em ministérios específicos como: aconselhamento, capelania, professores universitários e outros campos não relacionados à liderança de igrejas locais, abrem-se portas para o ministério bivocacionado, pois não haverá um grande número de ministros formados para os campos de atividade ministerial (de tempo integral), sendo que as igrejas menores terão grandes dificuldades para contratar – e manter – um pastor ou missionário com formação acadêmica, de tempo e salário integral, ao contrário, dispondo de um ministro bivocacionado, este se torna uma boa possibilidade para atuação junto a essas carências.
Frente a grandes mudanças e o grande número de novas e pequenas igrejas, os ministros bivocacionados proporcionam estabilidade que essas igrejas necessitam, por que podem permanecer no mesmo local por períodos mais longo de tempo.
 Por último, mas não menos importante, conforme Dennis Bickers destaca no capítulo oito e nove algumas possibilidades para o ministro bivocacionado quanto à vocação ministerial e para a igreja que dispõe deste ministério, são:

Quanto à vocação para o ministério bivocacionado: (1) o chamado por Deus para ocupar esta posição; (2) a certeza de estar suprindo uma necessidade; (3) o apoio da família; (4) dispor dos dons necessários para a tarefa na qual foi incumbido; (5) uma boa relação com os membros que o encaram de igual para igual devido ao segundo emprego; (6) experiências pessoais e profissionais; (7) conhecimento da comunidade; e (8) relacionamento com pessoas não-cristãs.
Quanto aos benefícios e possibilidades para a igreja que dispõe de um ministério bivocacionado: (1) mais recursos para o ministério; (2) ministério pastoral mais longo; (3) esperam-se mais dos leigos; (4) a possibilidade de se contar com outros líderes; e (5) um ministro que se identifica mais facilmente com os membros.

Quanto aos limites deste ministério, Dennis Bickers destaca que existem poucos recursos para o ministro bivocacionado, entre estes: livros sobre ministério pastoral direcionado para pequenas denominações e o próprio ministério bivocacionado. Outro fator são os questionamentos que surgem quanto ao ‘sucesso expresso nos números’, pois tendo o ministro bivocacionado um emprego paralelo, sendo na maioria das vezes ministro de uma igreja pequena, este por sua vez fica limitado a grandes empreendimentos e programas especiais variados, poucos batismos acontecem, dificuldades quanto a visitas e formação acadêmica em teologia.
 Também pode existir pouco apoio ao seu ministério, pois o ministério em si é um lugar solitário, sendo que muitas reuniões, cursos de treinamentos, seminários são realizados em horário comercial, justamente quando o postor bivocacionado está no seu trabalho. 
Outro fator que limita o ministro bivocacionado é a tarefa árdua de harmonizar as dinâmicas do trabalho semanal junto às exigências do ministério pastoral (igreja), sua família, lazer e o tempo para o preparo da pregação e estudos adicionais. Frente a todas essas exigências, fazem-se necessário ter equilíbrio nas expectativas que se tem ao ministério, a igreja e a família. 
Também como limites, podemos destacar alguns problemas que o ministério bivocacionado traz, assim como outros tipos de ministério, mas que estes sendo únicos no que diz respeito ao bivocacionado.
Primeiramente, pelo fato do ministro bivocacionado dispor de um segundo emprego, o qual exige demandas do ministério, da família e necessidades pessoais, este fica limitado a algumas atividades e exigências do ministério.
Segundo, o problema de começar a duvidar do seu chamado para o ministério ou questionar a sua validade, se agravando quando outros começam a expressar as mesmas dúvidas.
Outro problema é a inveja por parte de outros ministros de tempo integral, tendo geralmente a ver com a situação financeira do pastor que tem um segundo emprego, pois estes têm muitas vezes as condições de gozar de um padrão de vida mais elevado do que muitos pastores de salário integral.
Quarto, um ministro bivocacionado terá dificuldades de mudar de igreja, se não tiver a opção trabalhista para se mudar para outra cidade, pois a mudança entra em conflito com seu segundo emprego e as igrejas da área. A restrição do tempo também se torna obstáculo para muitos ministros bivocacionados, pois conciliar as horas gasta no trabalho com as atividades ministeriais da igreja não é tarefa fácil, exigindo muita disciplina e equilíbrio.
Também podemos destacar a própria falta de conscientizarão quanto a importância deste ministério, pois muitas igrejas poderiam dispor da possibilidade de criar campos ministeriais bivocacionados, frente às vantagens que este oferece, assim como a própria má compreensão deste ministério por parte dos membros também inibe novas e possíveis vocações bivocacionais. Também os pastores e missionários de tempo integral não dão ênfase neste ministério, pois muitos têm medo, não sabendo separar as diferenças, atribuições e contratos estabelecidos entre ambos os ministérios, entendem somente como concorrência, infelizmente, sendo que estes poderiam dispor do trabalho de equipe, potencializando os trabalhos ministeriais. 
E por último, a falta de crescimento da maioria das igrejas é um limitador para o ministério bivocacionado, pois por serem geralmente pequenas e a sociedade recompensar e valorizar o trabalho com base no crescimento numérico, na qual na cultura eclesiástica não é diferente, estes ministros podem ser pressionados a apresentar resultados com base, infelizmente, nos ministérios de tempo integral e as igrejas de grandes centros compostas por equipes de pastores.
 No capítulo nove, Bikers destaca outros três problemas ou desvantagens de uma igreja ter um ministro bivicacionado: (1) falta de disponibilidade imediata; (2) vínculos denominacionais enfraquecidos; e (3) a igreja ter somente um pregador, e não um ministro (pastor ou missionário de tempo integral).
Destacamos pontos positivos e negativos relacionado ao ministério bivocacionado, segundo destaca Dennis Bickers. Como cada situação exige uma postura ou metodologia, lembramos que não estamos defendo o ministério bivocacionado como o “único modelo”, as uma alternativa válida e eficiente, tão quanto ao ministério de tempo integral, sendo que ambos os modelos tem seus fatores positivos e negativos, precisando sempre de análise e adequação para cada contexto e situação.   

terça-feira, 3 de abril de 2012

Fazedores de Tendas Fazedores de Discípulos

Destaca o ministério dos “fazedores-de-tendas” como uma das mais importantes estratégias diante do desafio dos povos menos alcançados.
 
Apresenta esse ministério no seu contexto histórico e contemporâneo, e a partir de um estudo de algumas personagens bíblicas, incluindo Daniel, José e o apóstolo Paulo.
 
Elabora uma base bíblica e teológica para esse ministério que demonstram a soberania de Deus em usar profissionais dedicados à sua profissão e chamados à Missão Integral, para o cumprimento dos Seus propósitos.
 
Propõe um currículo integrado de modelos de capacitação e preparação para profissionais brasileiros, candidatos ao ministério dos “fazedores-de-tendas”.
 
Destaca ainda o momento oportuno em que a Igreja Evangélica Brasileira se encontra, como uma das maiores comunidades evangélicas do mundo, despertando-a em relação ao seu papel importante na força missionária transcultural.
 
No mundo de hoje, papel que ela ocupará à medida que atualiza a sua atuação missionária e vale-se das estratégias mais relevantes, como o ministério dos “fazedores-de-tendas”. 
 
Philip John Greenwood - reside no interior de São Paulo com sua esposa Jan, são britânicos e têm filhos: Luke, Rebecca e Kathryn. Missionários da Latin Link Europe no Brasil desde 1992.
 
Trabalham com a aliança Universitária do Brasil nas áreas de discipulado e ensino. Recentemente estão dedicando cada vez mais do seu tempo no apoio á obra missionária transcultural brasileira, com interesse especial para profissionais em missões.
 
Formou-se em Engenharia Química na Inglaterra, onde trabalhou como profissional por 13 anos. Philip e Jan fizeram o curso de missões transculturais no All Nations Christian College na Inglaterra.
 
Philip tem mestrado em Teologia Prática pela FTSA - Faculdade Teológica Sul Americana em Londrina - Pr.
 
Este livro é baseado na sua dissertação de conclusão de curso.
 

ENTRE O MINISTÉRIO E MERCADO DE TRABALHO

Agüentar uma dupla jornada de trabalho não é mole. Que o digam as mulheres que trabalham fora e, quando chegam em casa, ainda têm que cuidar da família. Muitos pastores evangélicos também vivem essa realidade exaustiva se dedicando ao ministério e a uma atividade profissional secular para complementar a renda familiar. Segundo um estudo desenvolvida pela Universidade de Brasília, em 2004, apenas 20% dos entrevistados pela UnB chegam aos R$ 3 mil de salário. A dificuldade para sustentar a família somente com a contribuição da igreja levou os líderes espirituais das congregações a optarem por dividirem o seu tempo com outro ofício. É por um salário melhor que muitos pastores se dividem entre uma profissão com carteira assinada e o ministério.

Pensando em dar auxílio a esses pastores, que o escritor norte-americano Dennis W. Bickers iniciou em 2002 o Ministério Bivocacionados, onde dá assistência espiritual e dicas de como conciliar o emprego secular com o trabalho pastoral. Bickers é proprietário da Madison Heating & Air Conditioning em Madison, Indiana (EUA) e é pastor da Igreja Batista Hebrom. “No final da década de 1970, senti que Deus estava me chamando para o ministério. Naquela época, eu nunca tinha ouvido falar do conceito de bivocacionados, mas como eu tinha um trabalho em tempo integral em uma fábrica, além do meu trabalho pastoral eu havia me tornado um pastor bivocacionado”, relata Bickers que já escreveu cinco livros sobre o assunto e está lançando no Brasil o livro Conciliando Profissão e Ministério (Título original em inglês: The Bivocational Minister) pela CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de Deus).

Para o autor, no entanto, o maior desafio em conciliar ministério e trabalho secular é aprender a administrar o tempo e tentar encaixar todas as demandas nas 24 horas do dia. “Há cinco áreas da vida que os ministros bivocacionados devem manter em equilíbrio: a relação com Deus, relacionamento com a família, as expectativas que temos sobre o trabalho, as necessidades da igreja e o cuidado pessoal”, esclarece.

Bickers afirma que muitas denominações nos Estados Unidos contam, em seus relatórios anuais, que o número de pastores que mantém uma dupla jornada de trabalho está crescendo. “Alguns destes ministros vão ter uma educação formal, (como qualquer outro pastor), mas outros vão começar o seu ministério, sem nenhuma educação ministerial, como eu fiz. Devemos ter outros meios para a formação destes pastores, por isso, comecei o meu ministério. Quero incentivá-los e fornecer-lhes os recursos que podem utilizar em seus ministérios”, afirma o pastor que já se prepara para lançar o sexto livro sobre o assunto.

Realidade brasileira
A realidade retratada por Bickers  é vivida por muitos ministros do evangelho no Brasil. Boa parte das igrejas do país não consegue dar o sustento necessário para seus pastores optarem apenas pelo ministério. Ao contrário de Bickers, os pastores brasileiros mantêm uma dupla jornada de trabalho mais por necessidade do que por vocação. Esse é o caso do pastor Fabiano Martiz, da congregação da Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo em Presidente Epitácio (SP). Ele é contato publicitário em uma rádio local e divide seu tempo entre as viagens ministeriais, a igreja e o trabalho secular. “Eu trabalho duas vezes por semana na rádio. O trabalho que mais gosto de fazer, no entanto, é a obra como itinerante. Viajando para pregar o evangelho em vários estados. Mas, como a igreja é pequena e não pode me dar o sustento necessário para manter a minha família, tive que optar por mais uma fonte de renda. Mas o meu ministério é prioridade”, diz o pastor, que mantém essa dupla jornada há quatro anos. Para ele, o maior problema em administrar as duas funções é arrumar tempo para fazer tudo o que precisa. “Minha vida é muito corrida, viajo de um lado para o outro e, às vezes, falta tempo para a família também, mas eu não posso fugir do chamado do senhor para minha vida, e graças a Deus que eu tenho uma família que entende isso e um trabalho flexível”, afirma.

A família também é fator determinante para o sucesso no ministério da pastora e jornalista Adriana Reis. Ela conta que o marido a auxilia nos serviços domésticos e no cuidado com a filha de três anos. “Minha vida é uma correria, tento criar uma rotina de oração e leitura da Palavra, que muitas vezes e interrompida por um grito de criança, mas isso faz parte. Como priorizo Deus, o restante vai se encaixando. Em casa, conto com a ajuda e o apoio do meu esposo em tudo, ele faz até serviços domésticos, quando preciso. Graças a Deus!”, relata Adriana que trabalha como redatora do Jornal Show da Fé, do grupo Graça Editorial. Ela afirma que a compreensão de sua chefe na empresa é muito importante. “Deixo bem claro a posição que ocupo e sou respeitada quando digo que determinado dia não posso sair mais tarde por conta de algum compromisso na igreja. Já tive que sair do trabalho algumas vezes para emergências como realizar funerais”, conta a jornalista que foi consagrada ao ministério em 2005. “Eu pertenço ao Ministério Reconciliar (que fica no bairro da Posse, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense), uma Igreja fundada, há cinco anos, pelo pastor Claudio Renato Pereira e por mim. Na verdade, eu auxilio o trabalho dele, mas já assumi a posição de titular por três anos”. Para desempenhar as funções do ministério pastoral, os pastores do Ministério Reconciliar também contam com uma ajuda imprescindível. “Nós assumimos um chamado de Deus e Ele nos ajuda a desempenhar as tarefas, que são muitas e de grande responsabilidade. Contamos também com um grupo de colaboradores (corpo ministerial) que nos dá suporte, formado por intercessores, obreiros e diáconos. Eles nos ajudam nas visitas e abrem os cultos”, diz Adriana, cujo colega ministerial também tem um trabalho secular.

O consultor imobiliário e pastor José dos Santos Almeida também tem um trabalho flexível que o ajuda a administrar as atividades ministeriais e profissionais. Dono do próprio negócio, uma imobiliária, Almeida se tornou pastor depois de 22 anos como corretor e consultor na área, hoje, ele tem 28 anos de carreira. Desde 2007, José é pastor da Igreja Batista da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro. Para o consultor, dedicação exclusiva à igreja é um mito. “Quase sempre os pastores exercem outras atividades. Algumas são mais afins ao ministério, como diretor de alguma agência missionária, ou o escritório da denominação e, outras são diferentes, como a que eu exerço, por exemplo. O pastor reclama, porém, que falta tempo para estudar. “Sempre falta tempo para se fazer o que quer, e eu me recinto por não ter tempo para fazer cursos e estudar mais, para aprimorar as duas atividades”, diz. Por ser dono do próprio negócio, o pastor tem uma certa flexibilidade. Almeida fez o seu trabalho de final de seminário exatamente sobre esse tema. Segundo ele, em 1994, quando concluiu o seminário, 50% dos pastores da denominação batista exerciam uma outra atividade profissional. “Acredito que a dificuldade da congregação dar o sustento suficiente para que o pastor possa sustentar a sua família é uma das causas da procura por um trabalho secular”, afirma.

RELEVÂNCIA DA FORMAÇÃO TEOLÓGICA NO PREPARO DE LÍDERES DA IGREJA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

O homem prudente busca o conhecimento”.
(Provérbios 13.16a)


A educação cristã tem sua importância fundamentada na própria história do povo de Deus desde os primórdios da criação. No Jardim do Éden Deus instruiu a Adão e Eva quanto ao propósito de cultivar e cuidarem do jardim: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, por que no dia em que dela comer, certamente morrerá” (Gn 2.16-17).

Assim prossegue por todo o contexto do Antigo Testamento, de que o plano fundamental de Deus sempre foi o de que a educação do seu povo deveria acontecer, desde o contexto familiar (Ex 12.26,27; Dt 4.9,10; 6.4-7; 11.18,19 etc), e se estendendo para o nível comunitário (2 Cr 17. 9).
"Ouça ó Israel: O SENHOR, o nosso Deus, é o único SENHOR. Ame o SENHOR, o seu Deus, de todo o seu coração, e toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar". (Dt 6.4-7 – NVI)

Moisés, após quarenta dias e quarenta noites sem comer pão e beber água, recebeu as palavras da aliança, desceu do monte Sinai e transmitiu aos israelitas os mandamentos que o Senhor tinha lhe dado (Ex 34.28,32).
O rei Davi, poeta e músico, também soube dar a devida importância quanto ao ensino da Palavra de Deus para sua vida quando pediu por diversas vezes que o próprio Deus lhe ensina-se os seus mandamentos: “Ensina-me, Senhor, o caminho dos teus decretos, e a eles obedecerei até o fim” (Sl 139.33 – NVI).
Quando nos transportamos para o Novo Testamento também encontramos em diversos contextos a importância da formação teológica dos discípulos, bem como do próprio Jesus, que crescia em conhecimento e graça diante de Deus e dos homens (Lc 2.52).

Em um dado momento, estando Jesus a ensinar os seus discípulos, lhes advertiu quanto à importância de estarem preparados e bem instruídos quanto à vontade de Deus: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco? O discípulo não está acima de seu mestre, mas todo aquele que for bem preparado será como o seu mestre” (Lc 6.39-40 – NVI).

Em seu livro Treinando Obreiros, Craig Ott apresenta a didática de Jesus aplicado à formação dos discípulos. Ele destaca de forma especial a flexibilidade de Jesus e a sua capacidade de adaptar sua metodologia a situações específicas. Craig Ott cita em especial que Jesus tinha sua didática (1) orientada pela situação, (2) a ênfase voltada para o discípulo, (3) o conteúdo fácil de ser lembrado, (4) ele usava diferentes mídias, (5) promovia a reflexão e (6) exigia de seus discípulos uma resposta prática.

Já no contexto da igreja primitiva, o apóstolo Paulo também deu demasiada importância quanto ao ensino e formação cristã, a semelhança de Jesus. Nas viagens missionárias realizadas, sempre expôs as Escrituras de forma eloqüente e sistemática, visando à conversão dos gentios e a edificação dos crentes. Quando escreveu a Timóteo, a este escrevia ensinando e recomendava-o instruir a outros: “Se você transmitir essas instruções aos irmãos, será um bom ministro de Cristo Jesus, nutrido com as verdades da fé e da boa doutrina que tem seguido” (1 Tm 4.6).

Num outro contexto, Paulo exorta novamente a Timóteo para a prática do ensino: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros” (2 Tm 2.2).

A história da igreja também demonstra a importância da formação teológica e o que acontece quando o mesmo é negligenciado. As palavras de Lutero demonstram os resultados na vida de toda a cristandade quando a estes lhe é tirado a formação teológica pura e simples:
"Sob o tema sacerdócio ninguém entende outra coisa senão os “celebradores” e aqueles que estão a serviço do sacrilégio inútil. E a não ser que se passe de largo por esses usos e costumes sem valor e te agarres de olhos bem abertos somente às Escrituras, não superarás esse escândalo"[1].

Podemos observar que toda a história da humanidade é desenvolvida em meio a diversos ideais filosóficos e religiosos. A igreja inevitavelmente não está livre de sofrer influências destrutivas destes movimentos ideológicos e paradigmáticos em todos os tempos. Muitos cristãos são levados a mudar seus conceitos quanto ao entendimento da doutrina de Deus e da salvação, sendo assim, sempre se faz necessários a constante formação de líderes que por sua vez possam instruir aos outros cristãos em geral.

Segundo Schwarz (2001, p.50), Martim Lutero atribuiu ‘os efeitos destrutivos do Escolasticismo[2] na Idade Média como sendo uma mistura de teologia e metafísica aristotélica’. Dentro daquele ‘mundo’ as pessoas cristãs viviam, pensavam e falavam conforme padrões que diferem totalmente da cosmovisão bíblica. O problema é que as decisões com raízes históricas haviam sido transformadas em dogmas e depois canonizadas litúrgica e legalmente pela igreja. Um exemplo disso é que a vivência cristã no século XVI tinha sua mentalidade eclesiástica presa a diversos paradigmas equivocados da Palavra de Deus.

Em nosso tempo, em pleno século XXI, a formação e o preparo de líderes cristãos continuam tão quanto ou mais importante devido as grandes mudanças em todos os âmbitos e ciências afins. O preparo de líderes no contexto brasileiro justamente tem sua importância devido a diversas influências culturais, históricas e religiosas.

Em sua matéria A Alma Católica dos Evangélicos no Brasil, o pastor Augustus Nicodemus Lopes enfatiza a influência da cosmovisão Católica Romano no contexto evangélico brasileiro atual. Ele aponta que por séculos, o Catolicismo formou a mentalidade brasileira a sua maneira de ver o mundo ("cosmovisão"). Quando ele destaca tal influência dizendo crer que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica, ele justifica tal crença em alguns aspectos através destes itens: (1) O gosto por bispos e apóstolos; (2) A idéia que pastores são mediadores entre Deus e os homens; (3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados; (4) A separação entre sagrado e profano; e, (5) Somente pecados sexuais são realmente graves.

Ainda, para uma melhor compreensão, reflita sobre à visão e compreensão que o pastor Augustus Nicodemus Lopes dos evangélicos tem sobre o tema "Alma Católica dos Evangélicos Brasileiros":
"Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas de usar no culto a Deus objetos ungidos e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos, imersos em práticas supersticiosas, me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neo-catolicismo tardio que surge e cresce em nosso país onde até os evangélicos têm alma católica".

Como é possível perceber, a importância da formação teológica se dá diante destes aspectos mencionados acima, pois assim como a história do povo de Deus e de toda a história da igreja foi e é marcado por ensino, sempre vamos necessitar de liderança preparada teologicamente, que pense, ensine e pregue todos os desígnios de Deus de forma fiel (teologicamente) e contextual (culturalmente).

Diante de tantos movimentos e religiões pseudocristãs, dos desafios modernos quanto à liderança cristã, da mudança cultural, pregações superficiais, entretenimento e show gospel, a falta de parâmetros éticos e morais entre outros, precisamos como igreja cristã preservar a prática de uma formação teológica relevante junto à liderança cristã brasileira. Precisamos de líderes que, nas palavras de Júlio Zabatiero, tenham toda convicção que ‘o tempo investido para pensar e fazer teologia será um dos tempos mais bem gastos no ministério’.

Decida buscar o conhecimento de Deus. Invista na sua formação teologica cursando uma Faculdade de Teologia. Busque estudar por meio da internet (Ensino a Distância). Participe de Seminários ou Conferências. Forme uma biblioteca completa de livros teológicos escritos por escritores respeitáveis.

REFERÊNCIAS
Bíblia. Português. Nova Versão Internacional. Trad. Sociedade Bíblica Internacional. São Paulo: Editora Vida, 2000.
LOPES, Augustus Nicodemos. Revista Fé para Hoje. Artigo: A Alma Católica dos Evangélicos no Brasil. Editora Fiel: nº 30, 2007.
LUTERO. Martim. Como Instituir Ministros na Igreja. Obras Selecionadas VI 07. São Leopoldo, Sinodal, 2000.
OTT, Craig. Treinando Obreiros. Curitiba: Editora Esperança, 2004.
SCHWARZ, Christian A. Mudança de paradigma na Igreja. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001.
STEVENS, R. Paul. Os Outros Seis Dias. Viçosa: Ultimato, 2005.
ZABATIERO, Júlio. A missão da teologia na vida de líderes e ministros do Evangelho. Disponível em: http://www.teologiabrasileira.com.br/Materia.asp?MateriaID=126. Acesso em: 14 jul. 2008.
[1] Lutero. Martim. Como Instituir Ministros na Igreja. Obras Selecionadas VI 07. São Leopoldo, Sinodal, 2000.
[2] O escolasticismo é compreendido pelo modelo acadêmico aristotélico de pensar (adotado nas universidades independentes a partir do século XII), que visa demonstrar o conhecimento racional e ordená-lo por sua própria causa (STEVENS, 2005, p. 19,216).