Existe uma verdade nessa frase: “Se você faz sempre as mesmas coisas, obterá sempre os mesmos resultados”. Também podemos saber que se fazemos sempre as coisas da mesma forma, nunca faremos nada diferente. É possível fazermos a coisa certa de forma diferente, isso por que, o estilo de vida das pessoas hoje é diferente do que a época de nossos avós. A própria tecnologia está mais avançada, sofisticou. Ontem o cavalo era um meio de transporte interessante e indispensável, hoje, ainda pode ser, mas todos irão concordar que o carro é mais prático e eficiente. Ambos são uteis, de acordo com sua finalidade.
Quando o assunto é ministério eclesiástico, o princípio é o mesmo. Existem muitas formas de desenvolver o ministério. Cada época e cultura exigem formas próprias para sua realização. Cabe a nós buscar compreender a os princípios e contextualizado de acordo com a época. Não é uma questão de inventar algo novo, mas de fazer algo de forma diferente. Vamos destacar algumas possibilidades de ministério eclesiástico para o século XXI.
Primeiramente, antes de estabelecermos os limites e as possibilidades para o ministério bivicacionado, vamos a definição o conceito: “O ministro bivocacionado é aquele que tem um trabalho secular e uma posição de ministro remunerado, ou não, na igreja. É também conhecido por fazedor de tendas, sendo o exemplo bíblico o apóstolo Paulo, que se sustentou financeiramente fabricando tendas” (p. 10).
A primeira possibilidade e relevância do ministro bivocionado para as igrejas está no fato de que muitas denominações (igrejas locais) são restritas quanto a recursos financeiros, não podendo dispor de um pastor de tempo integral. Também junto a isso, o próprio tamanho da igreja, sendo por sua vez, pequeno em número de membresia, muitas destas sofrem com mudanças freqüentes na liderança pastoral, daí, o ministro bivocacionado, além de ajudar na situação financeira de uma pequena igreja, também oferece estabilidade da qual necessita para alcançar seu potencial. Somado a isto, o ministro bivocacionado tem maiores condições do que aquele de tempo integra, pois poderá permanecer mais tempo numa mesma igreja, permitindo desenvolver maior confiança entre os membros e o ministro, o que gera efetividade ministerial.
Frente ao problema do ministério pastoral de curta duração, o ministro bivocacionado pode ficar mais tempo, pois não enfrenta as mesmas pressões financeiras que os ministros de tempo integral, sendo que alguns bivocacionados dão mais a igreja em forma de dízimo e ofertas do que recebem.
Outra grande possibilidade para o ministério bivocacionado está nas frentes de missão transcultural, onde que a força-tarefa missionária precisa de homens e mulheres com um trabalho cristão de dupla vocação (profissional e ministerial) para transpor barreiras de resistência religiosa que se apresenta frente a importante estratégia de evangelização mundial.
Também frente a grande carência de pastores e missionários em muitas regiões e de algumas denominações, o ministro bivocacionado dispõe de melhor perfil junto a estes contextos. Também o ministério bivocacionado se faz útil junto às muitas iniciativas missionárias, formação de novas comunidades, pois estes por sua vez exigem liderança e cuidado pastoral, mas que não tem recursos suficientes para proporcionar um ministério de tempo integral. Os próprios ministros (pastores e missionários) bivocacionados podem desempenhar um importante papel na implantação de novas comunidades.
Como muitas igrejas necessitam de ajuda para esticar as finanças escassas (novas igrejas ou igrejas rurais e tradicionais), podendo o ministro bivocacionado vir a possibilitar as condições de desenvolvimento ou mesmo ajudar algumas igrejas a se manterem vivas o tempo suficiente para uma transição ou aprender a caminhar por si mesma.
Sabendo que muitos seminaristas, e até mesmo pastores atuantes estão planejando se especializar em ministérios específicos como: aconselhamento, capelania, professores universitários e outros campos não relacionados à liderança de igrejas locais, abrem-se portas para o ministério bivocacionado, pois não haverá um grande número de ministros formados para os campos de atividade ministerial (de tempo integral), sendo que as igrejas menores terão grandes dificuldades para contratar – e manter – um pastor ou missionário com formação acadêmica, de tempo e salário integral, ao contrário, dispondo de um ministro bivocacionado, este se torna uma boa possibilidade para atuação junto a essas carências.
Frente a grandes mudanças e o grande número de novas e pequenas igrejas, os ministros bivocacionados proporcionam estabilidade que essas igrejas necessitam, por que podem permanecer no mesmo local por períodos mais longo de tempo.
Por último, mas não menos importante, conforme Dennis Bickers destaca no capítulo oito e nove algumas possibilidades para o ministro bivocacionado quanto à vocação ministerial e para a igreja que dispõe deste ministério, são:
Quanto à vocação para o ministério bivocacionado: (1) o chamado por Deus para ocupar esta posição; (2) a certeza de estar suprindo uma necessidade; (3) o apoio da família; (4) dispor dos dons necessários para a tarefa na qual foi incumbido; (5) uma boa relação com os membros que o encaram de igual para igual devido ao segundo emprego; (6) experiências pessoais e profissionais; (7) conhecimento da comunidade; e (8) relacionamento com pessoas não-cristãs.
Quanto aos benefícios e possibilidades para a igreja que dispõe de um ministério bivocacionado: (1) mais recursos para o ministério; (2) ministério pastoral mais longo; (3) esperam-se mais dos leigos; (4) a possibilidade de se contar com outros líderes; e (5) um ministro que se identifica mais facilmente com os membros.
Quanto aos limites deste ministério, Dennis Bickers destaca que existem poucos recursos para o ministro bivocacionado, entre estes: livros sobre ministério pastoral direcionado para pequenas denominações e o próprio ministério bivocacionado. Outro fator são os questionamentos que surgem quanto ao ‘sucesso expresso nos números’, pois tendo o ministro bivocacionado um emprego paralelo, sendo na maioria das vezes ministro de uma igreja pequena, este por sua vez fica limitado a grandes empreendimentos e programas especiais variados, poucos batismos acontecem, dificuldades quanto a visitas e formação acadêmica em teologia.
Também pode existir pouco apoio ao seu ministério, pois o ministério em si é um lugar solitário, sendo que muitas reuniões, cursos de treinamentos, seminários são realizados em horário comercial, justamente quando o postor bivocacionado está no seu trabalho.
Outro fator que limita o ministro bivocacionado é a tarefa árdua de harmonizar as dinâmicas do trabalho semanal junto às exigências do ministério pastoral (igreja), sua família, lazer e o tempo para o preparo da pregação e estudos adicionais. Frente a todas essas exigências, fazem-se necessário ter equilíbrio nas expectativas que se tem ao ministério, a igreja e a família.
Também como limites, podemos destacar alguns problemas que o ministério bivocacionado traz, assim como outros tipos de ministério, mas que estes sendo únicos no que diz respeito ao bivocacionado.
Primeiramente, pelo fato do ministro bivocacionado dispor de um segundo emprego, o qual exige demandas do ministério, da família e necessidades pessoais, este fica limitado a algumas atividades e exigências do ministério.
Segundo, o problema de começar a duvidar do seu chamado para o ministério ou questionar a sua validade, se agravando quando outros começam a expressar as mesmas dúvidas.
Outro problema é a inveja por parte de outros ministros de tempo integral, tendo geralmente a ver com a situação financeira do pastor que tem um segundo emprego, pois estes têm muitas vezes as condições de gozar de um padrão de vida mais elevado do que muitos pastores de salário integral.
Quarto, um ministro bivocacionado terá dificuldades de mudar de igreja, se não tiver a opção trabalhista para se mudar para outra cidade, pois a mudança entra em conflito com seu segundo emprego e as igrejas da área. A restrição do tempo também se torna obstáculo para muitos ministros bivocacionados, pois conciliar as horas gasta no trabalho com as atividades ministeriais da igreja não é tarefa fácil, exigindo muita disciplina e equilíbrio.
Também podemos destacar a própria falta de conscientizarão quanto a importância deste ministério, pois muitas igrejas poderiam dispor da possibilidade de criar campos ministeriais bivocacionados, frente às vantagens que este oferece, assim como a própria má compreensão deste ministério por parte dos membros também inibe novas e possíveis vocações bivocacionais. Também os pastores e missionários de tempo integral não dão ênfase neste ministério, pois muitos têm medo, não sabendo separar as diferenças, atribuições e contratos estabelecidos entre ambos os ministérios, entendem somente como concorrência, infelizmente, sendo que estes poderiam dispor do trabalho de equipe, potencializando os trabalhos ministeriais.
E por último, a falta de crescimento da maioria das igrejas é um limitador para o ministério bivocacionado, pois por serem geralmente pequenas e a sociedade recompensar e valorizar o trabalho com base no crescimento numérico, na qual na cultura eclesiástica não é diferente, estes ministros podem ser pressionados a apresentar resultados com base, infelizmente, nos ministérios de tempo integral e as igrejas de grandes centros compostas por equipes de pastores.
No capítulo nove, Bikers destaca outros três problemas ou desvantagens de uma igreja ter um ministro bivicacionado: (1) falta de disponibilidade imediata; (2) vínculos denominacionais enfraquecidos; e (3) a igreja ter somente um pregador, e não um ministro (pastor ou missionário de tempo integral).
Destacamos pontos positivos e negativos relacionado ao ministério bivocacionado, segundo destaca Dennis Bickers. Como cada situação exige uma postura ou metodologia, lembramos que não estamos defendo o ministério bivocacionado como o “único modelo”, as uma alternativa válida e eficiente, tão quanto ao ministério de tempo integral, sendo que ambos os modelos tem seus fatores positivos e negativos, precisando sempre de análise e adequação para cada contexto e situação.